Os Cegos - Pieter Brueghel

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Maria mundana

Maria efêmera
sem graça
será que olhas para além
em busca do infinito
ou intimamente mergulhas
em seu egoísmo?
Queres escapar rumo
às estrelas
pois que sonhas com asas
ao invés do andor
Se buscas assim o vazio
mira com seus olhos ocos
o homem
ah nada vês
olhar emaciado
- não és humana Maria
mas insistes em
carregar paixões
imundas encruzilhadas
promessas descumpridas
rezas precipidadas
restos do nada
e assim mulher
com suas mãos espalmadas
persigna-se
em fulgaz desespero
não tens o direito Maria
apenas espera

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Aurora

Há quem tema o céu
da boca temo a vastidão da
palavra
medir o infinito em
promessas sob as estrelas
- quem dera fossem infinitas
Aurora
quanta pretensão
a idéia difusa de eternidade
não passa de minúsculo quasar
visto a olho nu
se pulsares diante
da simples idéia de vastidão
imagine a matéria sendo engolida
por um buraco negro
finita!
virão novas constelações
e mais auroras
vias lácteas suspensas
qual móbiles
infinitarão o espaço
restará de você
apenas
reverberada palavra


Andrea Marques

terça-feira, 27 de julho de 2010

Varal - Ednardo


No varal a roupa ao vento
E no vento a voz da rua
E na rua o transitar
Gente apressada a passar
Na parede o calendário
No calendário outro dia
E no dia a mesma espera
De nada esperar um dia

No umbral da porta já torta
A sombra, o sombrio olhar
E no olhar coisas mortas
Que ninguém virá velar

O assovio, o assalto
O assunto a semana inteira
Na esquina, no bar, na feira
E a roupa no seu varal
E esse dia tão normal
Tão normal, tão normal

No umbral da porta já torta
A sombra, o sombrio olhar
E no olhar coisas mortas
Que ninguém virá velar

(Ednardo meu grande poeta)

vela

vento ascende a
vela
apaga vaga ao vê-la
marejado olhar
velado cais 
em si
e percebe
a espera infinita
se vias lácteas
uma luz pálida
nada mais vela


Andrea Marques

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Incerto


De tão aberto
ventre
a boca seca
retorcida entranha
incerto
sabe-se que
todo homem é um menino
e quando cansa de ser rei
corre a chorar no colo
da mulher
Acalma
tudo passa e depois
mais nada



continho de verdade


Sob um sol dominical esperando o ônibus
uma mulher puxou um assunto trivial - nos dias de hoje
é muito comum falar sobre doenças, câncer, morte, em suma
banalidades - quando um carro passou com um axé ou seiláoque muito alto.
Num afã a mesma considerou que um som tão alto
só poderia causar problemas de audiência.



gris

numa quase noite
você diz - com um Je t'aime atravessado
na garganta
que não me quer mais
o mundo como numa água-forte de Picasso
gris


domingo, 25 de julho de 2010

Outra

Sou apenas mais uma
entretantas -
bocas abertas
entre atos
Sêmen estéril a escorrer
na pele de outra


(poema de dor e falta de querer doar)