Os Cegos - Pieter Brueghel

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

sem título

(...)meus sonhos são deuses mortos
de um templo que já derrubaram
sou só uma sombra que vai...
E passo as madrugadas
buscando um raio de luz
por que a noite é tão longa?
guitarra dime-lo tu 


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ego

quisera não descobrir o caminho
para dentro de mim mesma
- prazer, Andrea, sou seu eu:
retalhado, em trapos
desiludido e sem esperanças
indigente, abandonado
maltratado e esquecido
enfim caiu a mordaça e eis que agora
grito
ouve, Andrea, sou seu íntimo
olha com os verdadeiros olhos da alma
e viva de uma vez por todas
tudo o que eu sinto

Vazio

vazia
sentia-se assim oca
apenas um nó na garganta a lembrava
de que ainda estava viva
esquecia-se então
que tinha esperança
há menos de um segundo atrás
seus sonhos foram drenados para fora
de si
como uma hemorragia
e continua sangrando

Morte vida morte

erguia-se do chão em cacos
vazia
e levantava pé ante pé
forçando passos adiante
uma nesga de esperança brincava em seus olhos
a escuridão começava a dissipar
ouvia então o canto de um pássaro
e alguma manifestação de vida plena
nos sorrisos pueris
reconstruía-se do nada
e firmava os pés no chão
preenchia-se de luz
vislumbrava o futuro promissor
cabeça levantada em direção ao horizonte
dava vazão aos sonhos
tinha esperança afinal
ia assim até que ele 
com uma única frase
a deixava oca novamente

sem importância

ela deixava de lado seus sonhos
em detrimento de alguém
que dizia sempre:
você não se importa
ela esforçava-se por esquecer de suas promessas de adolescente:
viajar para lá, pintar para cá, cantar acolá
viver qual passarinho na primavera
esquecia-se da promessa
e ouvia: você não se importa
e em seu interior retumbava o eco de outra voz:
você não se importa consigo mesma

domingo, 10 de outubro de 2010

Ora

E se for a hora
sim senhora
sorria e deixe o sol
entrar
se for a hora
nossa senhora
de risos esquecidos
virem aconselhar
que seja a melhor hora
embora ficar
não seja a solução

Andrea Marques

E se

E se tudo fosse se
acontecesse e alguém dissesse
e se visse
diz que me disse
com desdém mentisse
nada seria em vão
nada seria em vão
tudo seria desejo
um vão de porta
reverberado silêncio
assustado feito cão
que latisse e acudisse
toda a situação
toda a situação
e o que faria
arrumaria um pensamento
abjeto
me roubaria
a calmaria
sem dizer a que seria
e confesso:
apresso logo
um recomeço

Andrea Marques

Vendaval

vivenda de sonhos
teias de renda
olhar ardente a sonhar
passado vívido
há temporais
trazem
maresia no olhar

quintal de nuvens
lúcidas clarabóias
- janelas d'alma
lapidam vasos de
pensamentos
planta os pés
na terra 
e deixa o vendaval
passar

Andrea Marques

Dolores

Acabou-se o tempo da inocência
 agora o que resta
são espinhos
Dolores
são espinhos
olhar pela fresta
de um passado remoto
nem sempre traz conforto
mas bem que tens razão
em querer sair
a esmo
e recomeçar do nada
qual chama apagada
que de suas mãos brotam
a luz
Dolores
a luz
e assim inconsequente
delinquente mulher
encontra-se do outro lado
e senta-se nas pedras
pra lamber suas próprias
feridas

Andrea Marques

Dançarina

Lembra de quando dançávamos
nos telhados
das vilas?
e quando ríamos de nada
horas a fio?
eram dias de inocência
você era sempre a bailarina
e dançava com a ponta dos pés
rodopiando
Descalços na calçada
deixamos pegadas atrás de nós
rastros de felicidade
hoje podemos voltar
sobre nossos próprios passos
para dançar novamente
e ser feliz


Andrea Marques

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Prostituição

Vendo meu ânima
meu tempo e meu potencial criativo
por 3,76 a hora
para uma grande empresa estrangeira
troco meu tempo e minha liberdade
por um mísero salário mensal
que não me permite voar
que não me permite sonhar
e meus sonhos
são jogados fora 
às terças quintas e sábados
junto com o lixo

Andrea Marques

A última fuga

Ela
previsível
fazia tudo direito
era perfeita
Um dia
se jogou de um viaduto
e morreu


Andrea Marques

Fuga

Ela
complacente
dizia sim a tudo
tão pacata
e tão singela
Um dia passou um circo
e ela fugiu com
o equilibrista

Andrea Marques

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Conversinha fiada

Senta aqui comadre
que enquanto arrumo a casa
aprumo pra gente
uma boa conversinha
de coisas que se foram
e que não voltam mais
Não liga comadre
se não olho nos seus olhos
enquanto lavo a roupa
e a alma
vou cantar aquela ladainha
pra te distrair
e depois que fizer a janta
me sentirei mais aliviada
com sensação de missão cumprida
então sonharei mais uma vez
com uma vidinha diferente
daquelas que a gente vê
em livros de conto de fadas
e pensarei que tenho um grande amor
e enquanto tiro a mesa distraída
toco furtivamente a mão
de meu marido
que assiste interessado
o jornal nacional




Andrea Marques

Criação

Réstia
de pensamento
assoma
atrás da porta
coisas incontáveis
esperam
um quase grito
ecoa
dentro da cabeça
da mulher
rasga entranha
e sai à força

Andrea Marques

Nesga de esperança

Amanhecida
logo percebe que
é chegada a hora
de despertar
ao amanhe seres
sente ainda que pequena
uma mudança vital
para todos
desperta e vê que a luz
ainda que distante
brilha


Andrea Marques

Prisão

Enquanto presa
pensa no amanhã
mas
a pequena chave
em sua mão
sangra
trazendo-a para cá
A situação:
convenções dizem sempre
que não
mas a convicção interior
clama que sim
sua vontade
é mandar tudo pro inferno

Andrea Marques

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Presa

Presa
alma feminina
vaga sem rumo
feito vagalhão
onda marinha
furacão
e o homem
prende no fundo
de si
cada réstia de luz
que brinque no olhar
da mulher



Andrea Marques

sábado, 4 de setembro de 2010

In

perdida em pensamentos
põe-se a contemplar
através da persiana
o dia ensolarado
inside

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Boa menina

Seja uma boa menina
para ganhar doces
para brincar de casinha
e sonhar com uma vidinha
limitada
E se for obediente
quando você casar
toda mágoa passa
saram todas as feridas
faça tudo o que lhe pedem
olhe sempre do mesmo jeito
para baixo
submissa mocinha
não role na grama
não corra na praia
não ame com intensidade
não vibre
não pulse
não gargalhe
não abrace um amigo
não olhe nos olhos
não tire a máscara
não desmascare
seja boazinha sempre
que a sua recompensa
será a misericórdia divina
que te olha estupefata das alturas
por nunca ter sido plena
por nunca ter se superado
por nunca ter morrido de amores
por nunca ter perdido o fôlego
de tanto correr
de tanto amar
de ver o mar
de parir
de partir
de voltar
por nunca ter se machucado
por nunca ter voado
por nunca ter vivido
por nunca ter tentado
por viver sem sentido
e quando morrer
menina
você vai para o céu


Andrea Marques

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Epitáfio

Adiante a reta
trilha insurrecta de pesadelos
adormecidos
nesga de uma derradeira lucidez
desaba
e desconstrói tudo ao redor
de tudo o mais se apossa
e transpassa sem saber
os limites mais brandos
de qualquer pensamento
Qual deixa esquecida
de atores mortos
cálculos esquálidos de sonhos tortos
ecoando em teatros vazios 
cavaleiros andantes
arrimam estradares sobre
imundos andarilhos
- percalços de esperas vãs -
rumam para além-túmulos
de poetas esquecidos
fantasmas de sonhos de reis
refulgem pálidos
e acordam depois de amanhã
débeis
ainda sem saber


Andrea Marques

domingo, 8 de agosto de 2010

Sonho

Circular
mente luz silente
infiltra janelas
assenta cincunflexas
cores retinais
Lá do alto
solta a corda
- falta coragem
lança olhares ao redor
como vim parar aqui?
cidades labirínticas
ruem
corre
lá vem o trem
seus trilhos
como fronteiras abissais
cortam a linha da realidade
ídolos colossais surgem
bocas a sugar
a imensidão
sobra o vácuo
 - acorda!
é só um sonho

Andrea Marques

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vampira

Perfídia femme fútil
arrefece a teia invisível
ceifa desejos reprimidos
arrebata o ego masculino
cúspides a sugar o
ânima
desde tempos imemoriais
cultiva lápides mornas
nas veias-têmporas
e mais uma vez
recomeça

a caça secular


Andrea Marques

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Maria mundana

Maria efêmera
sem graça
será que olhas para além
em busca do infinito
ou intimamente mergulhas
em seu egoísmo?
Queres escapar rumo
às estrelas
pois que sonhas com asas
ao invés do andor
Se buscas assim o vazio
mira com seus olhos ocos
o homem
ah nada vês
olhar emaciado
- não és humana Maria
mas insistes em
carregar paixões
imundas encruzilhadas
promessas descumpridas
rezas precipidadas
restos do nada
e assim mulher
com suas mãos espalmadas
persigna-se
em fulgaz desespero
não tens o direito Maria
apenas espera

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Aurora

Há quem tema o céu
da boca temo a vastidão da
palavra
medir o infinito em
promessas sob as estrelas
- quem dera fossem infinitas
Aurora
quanta pretensão
a idéia difusa de eternidade
não passa de minúsculo quasar
visto a olho nu
se pulsares diante
da simples idéia de vastidão
imagine a matéria sendo engolida
por um buraco negro
finita!
virão novas constelações
e mais auroras
vias lácteas suspensas
qual móbiles
infinitarão o espaço
restará de você
apenas
reverberada palavra


Andrea Marques

terça-feira, 27 de julho de 2010

Varal - Ednardo


No varal a roupa ao vento
E no vento a voz da rua
E na rua o transitar
Gente apressada a passar
Na parede o calendário
No calendário outro dia
E no dia a mesma espera
De nada esperar um dia

No umbral da porta já torta
A sombra, o sombrio olhar
E no olhar coisas mortas
Que ninguém virá velar

O assovio, o assalto
O assunto a semana inteira
Na esquina, no bar, na feira
E a roupa no seu varal
E esse dia tão normal
Tão normal, tão normal

No umbral da porta já torta
A sombra, o sombrio olhar
E no olhar coisas mortas
Que ninguém virá velar

(Ednardo meu grande poeta)

vela

vento ascende a
vela
apaga vaga ao vê-la
marejado olhar
velado cais 
em si
e percebe
a espera infinita
se vias lácteas
uma luz pálida
nada mais vela


Andrea Marques

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Incerto


De tão aberto
ventre
a boca seca
retorcida entranha
incerto
sabe-se que
todo homem é um menino
e quando cansa de ser rei
corre a chorar no colo
da mulher
Acalma
tudo passa e depois
mais nada



continho de verdade


Sob um sol dominical esperando o ônibus
uma mulher puxou um assunto trivial - nos dias de hoje
é muito comum falar sobre doenças, câncer, morte, em suma
banalidades - quando um carro passou com um axé ou seiláoque muito alto.
Num afã a mesma considerou que um som tão alto
só poderia causar problemas de audiência.



gris

numa quase noite
você diz - com um Je t'aime atravessado
na garganta
que não me quer mais
o mundo como numa água-forte de Picasso
gris


domingo, 25 de julho de 2010

Outra

Sou apenas mais uma
entretantas -
bocas abertas
entre atos
Sêmen estéril a escorrer
na pele de outra


(poema de dor e falta de querer doar)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sertão mulher

quero todas as maçãs
agridoce perfume
cheiro de orvalho matinal
dar um basta ao não
quero sentir
de repente
sertão
mulher


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Acorde!



Manhãzinha
acordes acordada
vibrante cantata
relevante Sol
À passarada
cantabile sinfônica
encore!
nos galhos-pentagrama
pios bemóis
Ao entardecer
quase em Lá maior
< a cigarra arrefece >
e se esvai em Do.
- entre tantas noitinhas
ouvi grilos em staccato
incertos enamorados
de uma
semi lua colcheia

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Poema para Niltinho

Sonhava alto:
- de cima da perna de pau
via o que ninguém via
O mundo era mais colorido
sobre a pernalta
luzes sem ribalta
parlapatão de Paranapiacaba
Quando passava
preenchia os lugares vazios
comuns
saltimbanco sem picadeiro
Um dia pelo dinheiro -
teve de deixar de sonhar ali:
o circo desabou
o riso acabou
teve de se mudar
imundos

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Entreatos

Um dia
sob versiva claridade
emergi ao espaço cênico 
estreei 
Entreferas
subia ao palco e pensava domar
a condição feminina
Qual nada
- ao anoitecer sob vigília
deixava de ser menina
amanhecida 
mulher

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Falta do que ser

Pessoas são estranhas
lutam por sonhos que não são seus
e levam tão à sério...
será que a louca sou eu?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Queda

Surjo sem querer
verticalmente ao Sol
Ases me arrebatam à hora
morta de voar
- narciso decadente e solitário
sinto uma lacuna
em lugar da palpitação
o cheiro de mofo inebria
os castelos assombrosos de meu pensamento
palram pássaros colossais 
a língua jamais falada
e eu, nua 
dispo cada palavra

Noite sem fim

Não se sabe se é dia
à noitinha
em Paranapiacaba
onde as brumas
se deitam
Não se sabe se ainda há vida
quando chega a noite
e a tempestade
Mas se ouvem passos
nas calçadas enlameadas
E sussuros vindos do lado de lá
Há mortos vivos em toda a parte
perdidos de si
sem alma
Vidas pela metade
à espera
de algo que nunca virá

Andrea Marques

Noitinha

Quem tira pra dançar
a dançarina
ao som de Pan
tem asas nos pés de planta
e louros na cabeça
troca a flauta oca
por um bom pé-de-valsa
Quem valsa
sem saber dançar
resfolega
feito siriri ao por do sol:
- perde as asas
para o anoitecer
e as brumas vêm e vão
todos os dias
dançar mais uma vez
anoitecida

Andrea Marques

Fiar

Roca a fiar
entrementes
fi o s  de  pe n s a m e n t o    
 - tramas -
tece comentários
desfia palavras

ao
v   e   n   t   o

São Paulo, a terra da... tempestade

Nuvem vem mansa
liquefaz o dia
Olhares transbordam
em São Paulo
Ruidoso temporal
elétrico, traz vendaval
-Corre, tira a roupa do varal!
Gosto quando a chuva escorre no meu rosto
gosto de sentir o cheiro da chuva na terra...
asfalto
-deixa chover!
é perigoso falar assim
aqui
- onde nada escoa
nada escorre
imunda!
onde qualquer pingo pode ser
a gota d'água

Andrea Marques

Onde vivem os monstros - comentário

Me emocionei muito com o filme "Onde vivem os monstros". É impressionante como o diretor Spike Jonze consegue todo o clima da infância sem máscaras, numa atmosfera sincera de como é ser criança. Quem não se sentiu assim quando criança? Eu me lembro que eu só queria crescer e ser adulta, tamanha era a carga de ser criança pra mim. Nunca tive voz, nunca tive vez, tinha que mendigar os restos do amor dos meus pais, tinha que conviver com a agressividade das minhas irmãs, do mundo externo e, principalmente, interno: minha casa. Ser criança para mim era uma tortura. Eu via e ouvia coisas, dormia sempre com medo do escuro, do que o escuro guardava, do silêncio mortal da noite. Invariavelmente acordava assustada e gritando, mas ninguém vinha, eu nunca dormi na cama dos meus pais quando ficava com medo. Não sentia o calor da família. Mesmo quando adolescente ainda não conseguia me expressar, minha mãe sempre me mandava calar a boca, sempre me olhava com reprovação. Crescer não foi fácil. Mas apesar de tudo eu ainda consegui ter uma infância com muitas brincadeiras, muitas invenções e não deixei os problemas me bloquearem. Hoje sou quase normal... não ofereço riscos reais à sociedade...rs Mas muitas pessoas trazem seqüelas da infância. Eu tenho minhas máculas que procuro controlar, esconder, reprimir. Afinal, não podemos viver do passado.
Bom, eu só queria dizer que esse filme despertou todas as sensações da infância novamente em mim. Eu me sentia tal qual o Max e revivi tudo isso assistindo ao filme. E gostei muito. É bom para pensarmos em como agimos com nossas crianças. Como as reprimimos, assustamos, em como somos cruéis, covardes. Queremos sempre nos sobrepujar às vontades, aos desejos das crianças. É uma forma de nos sentirmos dominantes, adultos... Pensemos então como as crianças e vamos refletir sobre esse filme. Acredito que o mundo será muito melhor se mudarmos nossas atitudes perante os pequenos e indefesos.

Ângulo

Olho redondamente
aos arredores
dores
Pensei que morrias de amores
me desprezas como eu não queria
chorei tantas lágrimas
lástimas
Mas eis que, paralelamente
olhei através, acima
panopticamente

vi

Andrea Marques

Versinho de voar antes de morrer

Vendas ocultam
olhares sóbrios à procura
que
tudo vêem mesmo em brumas
Ah se eu fosse
seria um canário
voaria alto ao campanário
e calaria os sinos

Andrea Marques

Tempo


Às vezes tenho
tempo às vezes tempo
nem sempre
tenho
tempo corre foge
lança tantas horas
ao vento
tento fugir
mas o tempo escapa
entre os dedos
tempo lento
faz a volta
olha a hora!
- ainda está em
tempo.
Com o passar das horas
passarelamente
ando paralela
ao sabor do vento
Nem sempre solto
às vezes curto
é sempre assim:
acabou o tempo
Ando sem relógio
sem saber das horas
impróprias
de se fazer cachinhos
de falar bobagem
grito impropérios
ao sabor do vento
Quero que numa ventada
o tempo leve
o que eu já sofri
Tempo corre solto
às vezes é tão rápido
O tempo nunca pára
e o relógio corre parado
O tempo determina tudo
O que falamos o vento leva
o que somos o tempo leva
deixamos para trás apenas as impressões
a pessoalidade
quando se é importante
se fomos alguém na vida
o tempo não nos apaga
ao contrário
se passamos
como as páginas de um livro
em branco
o tempo é implacável
ali mesmo acabamos
antes mesmo de morrer

Andrea Marques

Sem título

Um dia pensava que
Era
atuava em um circo
andava em circulos
e me sabia infeliz
Certo dia subtraí-me
do nada
Restei

Andrea Marques

Ida

Vou
Através de montanhas nevadas
Campinas
Me dispus a partir
A morte me assusta às vezes
Mas vou
Experimentar novos frutos
O mel das flores
Me dispus a lutar dessa vez
Vou
Travar mais uma batalha
E vencer 

Andrea Marques

Labirinto

Você viu o que fez?
pegou meu amor
trancou e rotulou de
- Meu!
se apossou assim de cada sentimento
de cada palavra
de meu olhar
se apropriou de meu corpo
de meus pensamentos
e quando vi
eu estava em pedaços
era inteira sua

Me perdi no labirinto
do seu olhar
me perdi pelo seu cheiro
me perdi de mim
e não sei mais voltar



Andrea Marques

Intransigência

Renego
impávido eu retirado à força
de mim
à custa da Imagem
Nego
deslocado            eu
trancado à força
à custa da Igualdade
dentro de mim
Ego
mantenho afastado
qual sociopata
à custa da Materialidade
longe de mim
e abdico
do caminho traçado
da impessoalidade
Sendo!

Andrea Marques
Andrea Marques

Ego sem sentido

Corrompo as regras
e num arroubo
caio em Si
Salto mais alto e vejo
além da ignorância
Será que essa mesmice dura?
Dura realidade
Até quando tenho que dissimular o que sou
guardo escondido meu
Eu
Qualquer dia desses
ejeto de mim


Andrea Marques

à escuridão

Quando nascemos
pisamos com pés descalços
a lama do mundo
Alguns, ainda
se impregnam do lodo
mesmo depois de saberem...
Percebi que às vezes
não tenho a quem chorar
então, talvez haja resignação
em saber que nada aqui é para sempre
Quando nascemos uma rosa louca
Pariu sementes dementes
Entrementes inalava-se o odor lúgubre
- dos brejos sem flores -
que exala agora
Da boca do homem
Quando fomos paridos
Partiu-se o coração
A Mãe pereceu
Os seres partiram para depois de amanhã
E fez-se noite

Andrea Marques